Um editor não pode ser apenas um escritor frustrado sem talento ou um tarefeiro que começou como office-boy, mas que foi subindo porque demonstrava "boa vontade". Um editor tem que ter sólidos conhecimentos de escrita e de arte, mesmo que seja incapaz de imaginar uma ideia suficientemente meritória para ser publicada ou não consiga sequer desenhar uma stick-figure em condições (mais do que nos olhos, a capacidade de desenhar bem está na prática e correspondente coordenação entre a mão e o cérebro).
A última enormidade, uma verdadeira alarvidade mesmo, partiu de um editor experiente, pelo qual nutria respeito profissional e que tinha em bem melhor conta: Tom Brevoort afirmou que, no actual contexto do mercado, as capas são irrelevantes! Isto é um autêntico atirar da toalha, uma capitulação definitiva a uma lógica consumista de massas, assente unicamente em mega eventos e infindáveis crossovers, bastas vezes associados a uma boçalidade estética deprimente.
Eu sei que a velha máxima dita que "Gostos não se discutem!"."Só os maus", acrescentaria eu. Pelo que só isso explica os elogios desproporcionados e disparatados com que Jennifer Grunewald - editora do departamento de trade paperbacks da Marvel - brindou a capa do "artificial" Mike Mayhew para a edição de Women of Marvel, uma edição compilada que, muito honestamente, não interessa nem ao menino Jesus... A capa é o habitual em Mike Mayhew: rígida, artificial, sem vida, estática. Quase uma colagem de figuras sem grande interligação entre si. E já que falo em colagens...
O caso mais gritante é Greg Land. Não vou estar com meias palavras: Land é mau. Muito mau! A capa agora mostrada de Ultimate Power #1 é completamente surreal... Uma mera colagem quase aleatória de figuras isoladas, sem qualquer nexo, sem qualquer ligação entre si. Há uma coisa que se chama composição e que artistas destes parecem ignorar por completo. Artistas destes e, claro, os seus editores. Porque o problema, e grave, está aí: é que os editores acham que esta "coisa" é boa arte e quantas vezes já não ouvi pessoas com responsabilidade na Marvel a apelidarem Greg Land de "um dos melhores artistas da indústria"! Deus me livre!
Reparem na figura da Scarlet Witch: vejam bem a completa desproporção entre a cabeça e o peito e a parte inferior do corpo. Vejam aquele bracinho! A Wanda agora é deficiente, por acaso? E ninguém vê isto? Nem o artista, nem os editores? E querem uma prova que isto é uma (má) colagem de várias imagens? Reparem bem no ligeiro contorno branco à volta de cada figura. Isso significa que cada figura terá sido cortada de outro local e colocada aqui.
Isto parece-me suficiente. Espero que estes exemplos dêem que pensar e que vos faça meditar um pouco. Boa arte não é apenas figuras bonitas. Não é apenas traço bonito. Longe disso. Muito longe, mesmo.
Comentários
Mais concretamente "mas quem é que decidiu que estes gajos percebem alguma coisa disto?"
E a "arte" do Land continua inenarrável
Com todos os defeitos que tinham, Jim Shooter, nos anos 80, e Bill Jemas, no início deste século, tinham uma visão para a editora que dirigiam, neste caso a Marvel, não receando o risco editorial. E isso reflectiu-se claramente na verve criativa de vários autores e na qualidade superior de muitas séries publicadas então (FF de Byrne, Thor de Simsonson e DD de Miller, no tempo de Shooter; New X-Men de Morrison, X-Force de Milligan & Allred e o início do DD de Bendis, na era de Bill Jemas).
Só porque está melhor que há oito anos, não é legítimo desejar-se que esteja melhor do que está? Se há oito anos a qualidade estava perto do zero e agora anda pelo 5, não devemos exigir que se aproxime do 10?
A questão é que voltámos a uma época em que os comics de linha das principais editoras estão voltados para dentro, pretendendo agradar e pregando apenas aos convertidos, com os tais mega eventos e crossovers infindáveis.
Mas nem foi bem isso que pretendi focar na crítica. Foi sobretudo a questão da quase completa inexistência de editores com competência real e a consequente falta de controlo de qualidade ao nivel mais básico.
http://images.comicbookresources.com/solicits/marvelcomics/200608/WOMMAR_cov.jpg
E está a ser seguida, disso não há duvida. Basta ver as inconsistencias que mensalmente ocorrem nos titulos das várias editoras, quer em termos de arte quer em termos de argumento.
Quanto ao Greg Land, nao tenho nada a dizer. Contra factos nao ha argumentos. O braço da Wanda está diminuto, sim senhor. Mas não se pode julgar toda a obra de um artista por um braço apenas. Quantos e quantos membros este senhor não desenhou já na perfeição? E quem diz que não existe arte no trabalho de colagem?
São inúmeros os casos reportados, e devidamente comprovados, de imagens ilustradas por Greg Land, que não passam de fotografias de famosos trabalhadas em Photoshop e inseridas nos comics. Recordo-me por exemplo de um Magneto, em Ultimate FF, que era feito a partir de uma foto de Brad Pitt no filme Tróia. Já para não falar da famosa colagem de carros de corrida colocados por Land a voar, carros esses que deveriam ser simples veículos citadinos das ruas de Nova Iorque.
Para terminar, recordo apenas que a Marvel já ia arranjando sarilhos graves à custa de situações destas, quando o igualmente "genial" Mike Mayhew decidiu usar a foto oficial do Rei de Espanha para representar o Magneto da House of M. Só mudou a cara; tudo o resto, absolutamente tudo, era igual: a farda real, os galões, os brazões e até a tapeçaria real em fundo...
Se estamos numa era de "streamlining", em que os filmes e as séries de tv passam pelos estudos de mercados e "focus groups" e se colocam mamas aqui e ali para fixar a atenção, era inevitável que isso se revertesse nos comics. Se até agora isso não aconteceu, foi porque quem fez superheróis estava interessado em servir as histórias. Hoje uma nova geração, formada com outras bases, não vê grande problema em servir a "coolness" e fazer "swipe" da GQ e...
Epa! "Endsong" não era assiiiim intragável. Pronto, estragou o Quentin Quire, mas de resto comia-se. Não? Espero que este teu post não tenha sido redigido em autopiloto pela parte do teu cérebro que rejeita artistas com incorreções anatómicas. Sabes perfeitamente que eles até podem ser divertidos (louvores ao Tony Daniel por algumas gargalhadas).
É apenas o mais recente Landismo, a juntar-se a tantos outros que ditosas gargalhadas já causaram, entre abanares de cabeça que indicavam "mas ninguém repara nisto?!"
Não se pode ser grande artista se tem que se recorrer a cópias de fotografias página sim, página sim.
Pior, recorre-se a cópias sem creditar as fontes, o que é roubo.
Já para não dizer que o homem é tão tosco que é incapaz de manter a mesma cópia de painel pra painel, fazendo com que personagem X passe duma jawline definida à Bruce Campbell para uma carinha de bebé redonda logo a seguir.
E meu caro João, infelizmente cheira-me que o Quitely não será o Viagra para um título que será um Finch.
Espero estar enganado, mas acho sinceramente que no mercado americano as massas prezarão mais o Fincholas.
Afinal, ele usa mais risquinhos por metro quadrado, por isso deve ser melhor, né.
Não fosse a coisa, que é como quem diz, o braço, estar chegado para trás, eu diria que aquilo entrava pelos olhos adentro...
Mas parece-me um excelente momento para comentar o trabalho "editorial" que a Marvel faz aos filmes que permite que sejam criados com as suas personagens.
Obviamente, e nem seria preciso o bom exemplo da DC (e, como sempre e infelizmente não mais do que isso, bom apenas) com os Batman’s dos anos 90, o primeiro objectivo seria adaptar fielmente os comics ao cinema. Esse foi em parte conseguido (à frente direi em que filmes).
O 2º, completamente falhado, e mais grave ainda, nem sequer tentado (ou planeado, como ficará claro mais à frente). Seria gerar fantasia que qualquer pessoa, iniciada ou não na área, pudesse ver.
Se o HA 1 e 2 foram adaptações perfeitas da personagem, (e, com esse mero objectivo, excelentes filmes) isso não implica que não sejam sofríveis, já que a própria personagem o é (mas, juntamente com o Conan e o Tenente Blueberry, as minhas favoritas – mais tarde também os X-Men). Mas não deixam de revelar, aleluia, respeito pelas suas próprias (da Marvel) BD's.
O X 2 foi tb um bom filme, e teve o mérito de ter vários momentos de fantasia pura de grande qualidade, que supera o próprio imaginário dos X. Refiro-me ao trabalho com as bolas de metal que o Magneto usa para fugir, por exemplo (há mais 3 ou 4 momentos que agora não me recordo).
O X 2 tem também o mérito de conseguir mostrar os super-poderes de cada um de forma credível, como fantasia pura, e não como uma amálgama de efeitos pirotécnicos díspares e inverosímeis.
Também vi o Hulk e gostei, sobretudo das expressões dele quando do encontro com a Betty Ross, na sequência nocturna que desemboca no combate com os lobos, expressões cheias de sensibilidade. Mas também da coreografia dos saltos no deserto (excelente), e da divisão do ecrãn em “vinhetas”, embora não resultasse como contraponto à narrativa fílmica: continuava a ser cinema, não um interlúndio banda-desenhístico (confesso que também não imagino como seria isso possível- mas é, e seria uma experimentação de linguagem bem interessante).
O Daredevil, a Elektra e o Fantastic Four nem me atrevi a ir ver. Mas fui ver o X-Men 3... e cheio de esperança. A “Dark Phoenix Saga” é uma das histórias da minha vida. E o X2 encheu-me de esperanças. Mas, meu deus... fica para comentar num outro dia. Voltarei a isto. E darei as minhas ideias de como os “editores” dos filmes da Marvel deveriam de facto conceber os mesmos, e de como deveriam planear formas de os interligar, sempre que as personagens fossem conjugáveis (refiro-me aqui aos X’s e ao Quarteto).
Mas para finalizar, pergunto-me (e também a ti, Mário), para quê este nosso masoquismo? Para quê, se tanta, tanta coisa boa existe para ler, reler e descobrir, dentro e fora da Banda Desenhada (infelizemente, mais fora que dentro), para quê?
A única explicação que encontro seria a nossa preparação para o caso de termos a infelicidade de ter um filho mongolóide. Assim, estaremos de certeza já bem preparados para suportar, respeitar e entender o acéfalo.
Por tudo isto, faço aqui um pedido. Falemos apenas de material do mediano para cima neste blog. Não estão os nossos dia a dia normalmente já repletos de mau gosto, imbecilidade e de espectáculos de falta de moral e ética?